Parece que foi ontem que tudo aconteceu, mas ao mesmo tempo parece um sonho tão distante, que chego a duvidar se realmente aconteceu ou se não passou mesmo de um sonho...
Às vezes nem parece que um dia estive gravida. Todos aqueles sonhos doces e coloridos, a expectativa de como será o rostinho, se era uma menina ou um menino, que músicas eu colocaria para ele dormir, a decoração do quartinho... Eu já imaginava como seria a criação dessa criança, as coisas que iriamos ensinar, os valores, as crenças, a educação...
Imaginava o Natal, com um bebê no colo enquanto cantava hinos na Igreja... Cada festa, cada data, eu imaginava como seria com meu filho nos braços...
E agora tudo parece uma grande ilusão.
Esses últimos meses têm sido difíceis. Eu não cheguei a ir ao psicólogo, mas acredito que eu devo estar com depressão, ou o inicio de uma. Não tenho vontade de nada, nem mesmo das coisas que sempre gostei de fazer. Às vezes mal consigo levantar da cama, enrolo até quase meio dia...
Lembro que no dia em que tudo aconteceu, eu e meu marido estávamos na sala, ambos chorando e se perguntando o porquê de eu ter perdido o bebê. Eu o abracei, e disse que tínhamos que ser fortes e unidos, porque eu sabia que muitos casais se separavam de pois de um aborto. Meu marido disse que não seria burrice um casal se separar por um motivo assim.
Bom, nós não nos separamos, mas infelizmente nosso casamento não está lá muito bem.
Minha auto-estima praticamente não existe mais, sei que engordei um monte e minha vaidade é apenas uma vaga lembrança. Me sinto fracassada em tudo, como profissional, como esposa, como mãe, como mulher em todos os sentidos... Sei que muitas discussões são culpa minha, já que não tenho disposição para nada, mal limpo a casa, mal cozinho, mal compareço... Sinto como se nada que eu faço dá certo, e me questiono se sou mesmo boa no que faço, se tenho alguma capacidade ou se tudo não passou de presunção...
Enfim, não gosto de escrever sobre coisas tristes... mas a tristeza faz parte da vida.
